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Febre Q : Dos sintomas ao diagnóstico e tratamento

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A febre Q foi inicialmente reconhecida como doença de humanos em 1935 na Austrália. O "Q" signifca "query" (em inglês) e era utilizada quando um agente etiológico era desconhecido. A doença é de distribuição mundial com quadros clínicos, agudo e crônico, causado pela bactéria intra-celular obrigatória Coxiella burnetii.

Coxiella burnetii, o agente causador
Bovinos, ovelhas e cabras são os reservatórios primários, embora uma grande variedade de espécies podem ser infectadas. O microorganismo pode ser excretado no leite, urina e fezes de animais infectados. Durante o parto, a bactéria é eliminada em grande quantidade através de líquido amniótico e placenta. O organismo é resistente ao calor e a muitos desinfetantes comuns, permanecendo viáveis por longos períodos no ambiente.

A infecção em humanos usualmente ocorre através da inalação de poeira de currais contaminados com placenta e fluídos amnióticos dessecados e excreta de animais infectados. A disseminação da bactéria pode ocorrer através do vento e de poeira. Outras formas de infecção incluem picadas de carrapatos, ingestão de leite e produtos lácteos não pasteurizados e raramente transmissão pessoa-pessoa. Humanos são susceptíveis à infecção e um número muito pequeno de organismos são necessários para infectar. A ocorrência de casos humanos pode se dar de maneira isolada ou através de surtos.

A febre Q pode se assemelhar a outras doenças, ser leve ou até mesmo não causar sintomas em alguns indivíduos, podendo ser de difícil suspeita e diagnóstico. Estima-se que cerca de 3% dos adultos saudáveis e 10%-20% de indivíduos sob maior risco ocupacional (veterinários, fazendeiros, etc.) apresentam sorologia reagente para C. burnetii, sugerindo infecção pregressa.

Os sintomas da fase aguda da doença surgem, em média, 2 a 3 semanas após a infecção, embora mais da metade dos humanos infectados sejam assintomáticos. O quadro clínico da doença inclui uma grande variedade de combinações dos seguintes sinais e sintomas: febre elevada, cefaleia intensa, prostração, mialgia, calafrios, sudorese, tosse seca, náusea, vômitos, diarreia, dor abdominal, dor torácica. Embora a maioria dos pacientes com quadros agudos de febre Q se recupere, outros podem apresentar complicações graves como pneumonia, hepatite granulomatosa, miocardite, lesões neurológicas. Gestantes infectadas podem apresentar parto prematuro e abortamento. A letalidade estimada é inferior à < 2% em pacientes hospitalizados.

A Coxiella burnetii tem a capacidade de permanecer no organismo por longos períodos após a infecção. Entre 10%-25% dos casos apresentam fadiga crônica (fadiga recorrente, sudorese noturna, cefaleia, fotofobia, dor muscular, artralgia, distúrbios do sono) após a infecção. A forma crônica da doença ocorre em <5% dos pacientes com infecção aguda, pode ocorrer de maneira precoce nas primeiras 6 semanas após a infecção ou anos após. Os grupos mais susceptíveis às formas crônicas são mulheres gestantes, imunodeprimidos e pacientes com valvulopatias crônicas.

Endocardite é a principal manifestação da doença crônica, respondendo por 60% a 70% dos casos. A letalidade nos casos de endocardite sem tratamento adequado pode alcançar 25% a 60%. Nos casos de endocardite o diagnóstico tem de ser precoce e o tratamento deve se prolongar por, no mínimo, 18 meses. Outras formas de febre Q crônica incluem aneurisma de aorta, osteomielite, hepatopatia, infecções de órgãos reprodutores (principalmente, orquite).

Na fase aguda o diagnóstico pode ser feito através de PCR, sensível na primeira semana da doença mas com sensibilidade decrescente após o início do tratamento. PCR e imunohistoquímica de tecidos também podem ser utilizados, principalmente quando endocardite e hepatite.O de PCR positivo pode confirmar o diagnóstico, mas quando negativo não descarta a doença.O isolamento da C. burnetii em cultura só está disponível em laboratórios especializados.

Anticorpos contra C. burnetii geralmente podem ser detectados entre o sétimo e décimo dia da doença. O "padrão ouro" de sorologia é a imunofluorescência indireta, realizada com amostras pareadas (a primeira na fase aguda; a segunda após 2 a 4 semanas) de soro, de forma a identificar um incremento maior ou igual a 4 vezes nos títulos de anticorpos IgG. Os títulos de IgM geralmente se elevam ao mesmo tempo que o IgG, além de ser menos específico. Idealmente, para fins diagnósticos, 2 amostras pareadas, de IgM e IgG devem ser analisadas a fim de confirmar as fases agudas ou crônicas da doença. Os títulos de anticorpos contra C. burnetii podem permanecer elevados vários meses após a resolução da doença ou podem ser detectados em pessoas expostas a microorganismos antigenicamente semelhantes. Amostras únicas tornam difícil a interpretação de resultados.

A necessidade do diagnóstico diferencial.

Dengue, vírus Zika, chikungunya , influenza e Febre Amarela etc

 
O tratamento recomendado nos casos de doença aguda severa (em adultos e crianças) é a doxiciclina. A duração do tratamento é de no mínimo 3 dias após o desaparecimento da febre e até que haja evidências de melhora clínica. A duração padrão do tratamento é de 2 a 3 semanas. Nas formas crônicas da febre Q, o tratamento deve ser com a associação entre doxiciclina e cloroquina por um período de 18 meses.

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